9.15.2008

Proposta J.A. 232

Não é por acaso que a política surge como tema para um número do J.A.
Efectivamente, a arquitectura sempre se desenvolveu de mãos dadas com a política, umas vezes, pela própria vontade política, outras, por via indirecta, mediante decisões políticas que transfiguraram e mudaram a sociedade levando-a a conhecer novos panoramas, novas existências construtivas, que reflectem uma determinada realidade, características de um determinado espaço e tempo.
Contudo, não só a partir destes dois parâmetros se pode relacionar a arquitectura com a politica. Ao longo da História, a arquitectura foi também um instrumento de propaganda de diferentes regimes e condicionantes políticas.
Nesta proposta ao caderno do Vírus pretendemos interpretar esta relação ao longo dos tempos, transparecendo o contacto entre estas duas filosofias, que aparentemente independentes, se mostram indispensáveis no surgimento, desenvolvimento e queda de regimes, monarquias ou até mesmo democracias.
Neste caderno, pretendemos sensibilizar e acompanhar esta relação ao longo dos regimes mais estudados, o imperialismo romano, o feudalismo medieval, o absolutismo monárquico, o fascismo e, finalizando com o regime democrático ou democracia.
É sobretudo sobre este último parâmetro, que vai incidir e alongar-se esta sensibilização, equiparando, por exemplo, o papel da arquitectura na defesa e propaganda do regime nazi de Adolf Hitler, ou até mesmo Salazar, ao papel que a arquitectura poderá ter, ou se já não o possuí, na defesa e confraternização do regime democrático e o seu principal ditador, o cidadão!!!!
Pretende-se assim, reler os princípios democráticos, os direitos e as responsabilidades e confrontá-los com a arquitectura, inserindo este diálogo no contexto da sociedade pós moderna dos “mass média” onde toda a informação é gerada e fornecida de forma gratuita, transformando a nossa sociedade aparentemente transparente numa sociedade mais caótica e confusa.
É neste contexto sócio cultural que pretendemos finalizar a nossa proposta, questionando sobre como este diálogo informação/arquitectura pode ou não fortalecer o regime onde vivemos, onde queremos que ele vigore e cresça, da forma mais saudável e transparente possível.

A política e arquitectura sempre colaboraram no arranjo e desempenho das sociedades. Ao longo da história estas duas realidades desempenharam papéis basilares no desenvolvimento de ideais políticos, formas de governo que fortaleceram e derrubaram impérios e civilizações.
Desde o inicio da História, nomeadamente desde os primeiros relatos de sociedades organizadas, que a arquitectura detém um papel fulcral na sustentação, divulgação e manutenção destas mesmas. Tornou-se assim indissociável a relação, política /arquitectura.
1. Segundo reza, a História o primeiro grande império da era ocidental, o grande império romano, primeiramente denominado por república de Roma, era politicamente estruturado por um rei ou imperador eleito pelo senado ou por legitimidade hierárquica. O imperador exercia um poder autoritário e vitalício, super visionado pelo senado; intermediário, entre os deuses e os homens, servia-se do poder do exército para manter a ordem e vigiar as suas cidades com patrulhas ordenadas e disciplinadas. Assim entende-se o traçado das novas cidades que proliferam pela Europa pertencente ao território da “pax romana”, cidades que idolatravam o poder do monarca através de monumentais obras de arte que pontuavam as praças donde desaguavam as ruas ortogonais que compunham a malha da chamada típica cidade romana militarizada a princípio (república) e monumental já no apogeu do império.
Politicamente, Roma era um território governado por um regime semi-absolutista, cujo a arquitectura onde residia o poder, e os seus pólos de decisão, eram compostos por elementos de extrema beleza e ornamentação dando a entender a sumptuosidade do seu líder, “transparentando” uma imagem idílica e genial do seu líder colocando-o num patamar superior a todos os restantes romanos.
Este tipo de articulação entre a arquitectura e a propaganda política atingiu estado limite aquando da divisão política do grande império em dois impérios, o império romano do ocidente e o império romano do oriente. Aqui as divergências políticas/religiosas destes dois impérios suscitaram um desequilíbrio nos seus ideais, o que se reflectiram, numa desorganização das suas instituições e a quebra da aliança arquitectura/politica, sendo que esta servia de instrumento de divulgação do poder e da ordem politica.

2.Com a queda do império romano, e consequente desorganização social , religiosa e económica, o mundo conheceu uma nova forma de realização e concretização da acção dos poderosos, uma forma feudal, bipolarizada, onde a ira de cada senhor (senhorio) poderoso emergia numa porção de terra sobe a forma de um forte ou castelo, que com a ajuda de cavaleiros armados, exerciam o poder e a ordem sobre a população (trabalhadores) residente nas imediações do castelo, controlando a actividade cultural e económica, assim como, o desenvolvimento social de todo o território.
Este tipo de organização social transfigura-se numa rede urbana menos organizada, obscura, sem grande preocupações higiénicas , donde a mensagem de ordem politica, judicial e religiosa era fornecida aos cidadãos dentro das igrejas ou à porta, no nártex destas, por Padres ou senhores da guerra.
Este facto, vem constituir que a Igreja enquanto edifico, surgia como o principal ponto de reunião nesta época da História, assumia um papel determinante, na organização sócio-politico-cultural da sociedade deste período. À sua porta e dentro delas, eram redigidos discurso de “propaganda” ao monarca ou senhor da guerra
O povo, trabalhador e analfabeto, era composto por cidadãos livres e não livres, que obedeciam ao senhorio, com o medo de represálias, medo perder a sua pequena porção de terra, que lhe proporcionava o sustento, assim como , o medo de perder a sua única forma de angariar algum dinheiro para o dízimo. ( Renda anual ou tributo prestado ao senhor da terra ).
Socialmente, esta hierarquia foi sofrendo alterações na sua estrutura, ou seja, com consolidação do território e a consequente definição das fronteiras, o poder das armas foi-se dissipando em prol do comércio, o que estabilizou e tranquilizou a sociedade, fortalecendo os patamares mais baixos desta.

continua...

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